Preocupante: até o momento apenas 26% das crianças entre 5 e 11 anos receberam a primeira dose no RS
A baixa adesão da população gaúcha à vacinação infantil preocupa o governo do Estado. O assunto foi abordado em entrevista coletiva nesta quinta-feira (17). Quase um mês depois do início da imunização de crianças entre 5 e 11 anos de idade, o Rio Grande do Sul tem apenas 26,9% dessa população vacinada com a primeira dose.
“Infelizmente observamos que a adesão da vacinação das crianças no estado ainda é baixa”, lamentou Eduardo Leite (PSDB), em transmissão ao vivo pelo Youtube.
O governador destacou que o mês de janeiro registrou recordes de internação de crianças em leitos clínicos e de UTI e que, apesar dos números absolutos serem bem inferiores em comparação com a gravidade da covid-19 em adultos, a situação não pode ser vista como natural.
“Isso não é normal, não é normal que tenhamos crianças acometidas de uma doença que leva a óbito. E por isso é importante termos a vacinação”, afirmou.
Para tentar acelerar o ritmo da imunização infantil no RS, o governo estadual articulou com os municípios uma mobilização para o próximo sábado (19), denominada de “Dia C”, de criança, em analogia ao famoso dia “D” da vacinação.
Em Porto Alegre, a ação ocorrerá em sete escolas da rede pública municipal, das 9h às 15h, com a aplicação do imunizante pediátrico da Pfizer em crianças entre 5 e 11 anos que ainda não receberam a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus.
A secretária adjunta da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Ana Costa, destacou a necessidade dos municípios diminuírem eventuais “barreiras” que dificultam os pais a levarem seus filhos, promovendo a ampliação de horários e locais de vacinação e não exigindo qualquer tipo de agendamento prévio.
As ações “extra muros” também devem ser utilizadas como estratégia pra ampliar a cobertura vacinal infantil. Ana Costa explicou que, por uma questão de logística, a campanha de vacinação dos meninos e meninas teve que iniciar nos postos de saúde, inclusive porque o imunizante pediátrico da Pfizer (o primeiro autorizado pela Anvisa) demanda um sistema de refrigeração específico.
Chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri disse que, a partir de agora, é importante organizar ações da vacinação em outros locais, como nas escolas, por exemplo, para “levar” a vacina até onde estão as crianças. “É natural que agora comece a haver evolução nas estratégias”, projetou.
Vacinação e vulnerabilidade social
A baixa cobertura vacinal entre as crianças não é um problema exclusivo dos gaúchos, pelo contrário. Em outros estados do Brasil a situação é ainda pior. Estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) avaliam que o cruzamento dos indicadores sócio-demográficos com a cobertura vacinal de cada estado indica que a vulnerabilidade social determina a aplicação das doses em crianças.
O cenário de desigualdade entre os estados do País acaba por afetar mais os estados em que há maior proporção de crianças na faixa etária que deve ser vacinada, de 5 a 11 anos . O estudo também mostra que a cobertura vacinal para a primeira dose infantil é menor onde há maior desigualdade de renda, pobreza e internações por condições de saúde que podem ser controladas por acompanhamento na atenção básica.
“Entre as Unidades Federativas, apenas sete possuem cobertura de primeira dose maior que a média nacional (21%): Rio Grande do Norte (32,6%), Sergipe (23,9%), Espírito Santo (21,9%), São Paulo (28,1%), Paraná (28,6 %), Rio Grande do Sul (23,2%) e o Distrito Federal (34,6%). O pior desempenho está no Amapá, com apenas 5,3% da população na faixa etária entre 5 e 11 anos vacinada”, diz a nota técnica da Fiocruz, que destaca que todos os estados da Região Norte encontram-se abaixo da média nacional.
Se consideradas as capitais, a Fiocruz descreve que estão abaixo da marca do país as cidades de Boa Vista (20,6%), Rio Branco (6,9%), Porto Velho (16%), Teresina (8,4%), João Pessoa (15,8%), Belo Horizonte (18,4%) e Cuiabá (15,7%). Por serem muito destoantes, os percentuais de Macapá (1,6%), Recife (1,9%) e Campo Grande (1,6%) podem indicar inconsistência dos dados disponíveis.
Fake News
Para a Fiocruz, a difusão de notícias falsas tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e segurança da imunização para esta faixa etária, apesar de todas as evidências científicas disponíveis.
“A consequência deste processo é a lentidão na cobertura vacinal de primeira dose das crianças. E o contexto não poderia ser mais preocupante: o retorno das atividades escolares presenciais”, afirma o texto.
Os pesquisadores ponderam que o movimento antivacina no Brasil tem uma característica diferente de outros locais do mundo, pois levanta dúvidas apenas sobre a vacina contra a covid-19.
“Mais do que nunca, cabe o devido esclarecimento à sociedade civil, com linguagem simples e acessível sobre a importância, efetividade e segurança das vacinas, envolvendo a responsabilidade de todos os níveis de gestão da saúde no país (federal, estadual e municipal)”.
O resultado desse cenário em que a desinformação atrasa a imunização é um grupo populacional de crianças desprotegidas, que se torna mais vulnerável à contrair e transmitir a covid-19.
“Além do benefício individual, ressaltamos que, quanto mais crianças vacinadas, maior será a proteção da população como um todo. É importante destacar que a volta às aulas é necessária, mas com a devida proteção às crianças. Somente assim haverá um cenário positivo para iniciar um novo ano letivo, em que todos estejam protegidos, inclusive a população adulta, que volta a trabalhar de forma mais intensa para atender a esta demanda presencial, em serviços como o comércio e o transporte público”, explicaram os pesquisadores.
FONTE: SUL21
*Com informações da Agência Brasil