• 22 de dezembro de 2024

Leonardo Boff: as pessoas vão à rua quando as crianças passarem fome

 Leonardo Boff: as pessoas vão à rua quando as crianças passarem fome

A situação do Brasil, um ano após o final do processo de impeachment que tirou Dilma Rousseff do governo, mostra que “o golpe foi um tiro no pé” dos que o  promoveram. “Depois que Dilma foi tirada, tudo piorou. Todos os itens estão piorando de mês a mês. Diziam que a solução era tirar a Dilma e afastar o PT que o Brasil ia melhorar, mas ocorreu exatamente o contrário”, diz o frei Leonardo Boff.

“Eles não têm lideranças, e grande parte é de corruptos. Grande parte foi comprada para votar pelo impeachment. Vivemos num estado de exceção. Eles violam e passam por cima da Constituição. Levaram o Brasil a um impasse.”

Boff está em Chapecó (SC), onde, por coincidência, também se encontra na noite desta sexta-feira (1) a própria Dilma Rousseff. “Ela está em Chapecó fazendo concorrência comigo, pois dá uma palestra às 7 horas da noite, e eu dou às 7 e meia”, brinca o frei e escritor. A ex-presidenta ministra na cidade catarinense uma aula pública sobre os partidos políticos e a esquerda brasileira, no Complexo de Eventos Tabajara, na cidade hoje mais conhecida pelo time de futebol que disputa a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Para Leonardo Boff, diante da destruição de direitos do povo e da Constituição, decorrente das políticas devastadoras promovidas pelo governo Michel Temer, “a esperança vem no momento em que houver mobilização popular: ela chegará possivelmente quando sentirem na pele as consequências funestas dessas medidas duras, desses reajustes que o presidente ilegítimo está impondo”.

Quando será essa hora? “Quando as pessoas perceberem que as crianças estão passando fome, que já não podem ser atendidas na saúde, que as escolas já não funcionam. Esse é o momento de saírem à rua, porque os adultos aguentam a fome, mas o que eles não suportam é ver os filhos que não conseguem dormir porque gritam que fome”, diz. “Aí é o momento de uma convulsão social, que, no meu modo de ver, virá mais adiante, com o protesto contra esse tipo de governo que é antivida, antipovo, e discute tudo sem consultar a sociedade, passando por cima da Constituição”.

Para Boff, o governo extremamente autoritário se baseia em uma “maioria de ministros, e grande parlamento, Senado ou Câmara, corruptos ou acusados de corrupção”.

A dramática situação do país é resultado de um golpe feito pela classe dominante “que usou o parlamento, uma parte do judiciário, aliada com uma mídia conservadora, a mídia empresarial, que deram um golpe, porque se deram conta que as políticas sociais que começaram com o Lula estavam se consolidando, e tornando já uma coisa de continuidade”.

Em sua opinião, os historiadores mostram que isso sempre ocorre quando políticas populares ameaçam se consolidar no Brasil. Boff cita números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), segundo os quais os “multimilionários” brasileiros com renda mensal maior do que 160 salários mínimos, no topo da pirâmide social, são 71.440 pessoas.

Esses cidadãos são cerca de 0,5% dos que declaram Imposto de Renda, com rendimentos de R$ 298 bilhões e patrimônio de R$ 1,2 trilhão. “São os que estão atrás do golpe, pressionando para mudar a Constituição, para medidas severas que vão significar a transferência de muita riqueza para eles, ao preço de o povo perder direitos, empobrecer, cair de novo no mapa da fome como já caiu.”

 

Rede Brasil Atual

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