Democracia e reconstrução do país dão tom de marcha do Fórum Social Mundial
A derrota do bolsonarismo nas eleições e o início de um ciclo político popular e democrático com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva abrem novas perspectivas para a reconstrução nacional e para a luta por igualdade e direitos. Esse espírito vem se refletindo na edição 2023 do Fórum Social Mundial, cuja tradicional marcha de abertura percorreu algumas das principais ruas do centro de Porto Alegre nesta quarta-feira (25).
Retomando a alegria e o engajamento que sempre marcaram o evento, os participantes se reuniram no Largo Glênio Peres, de onde partiu a caminhada. Lideranças e entidades de diversos movimentos sociais — como sindical, estudantil, negro, de mulheres, LGBTI+ e de indígenas, entre outras frentes de luta — e partidos políticos participaram do ato.
Sob o lema “Outro mundo é possível – Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta”, o Fórum teve início na segunda-feira (23) e termina no sábado (28) com uma agenda cultural no Festival Social Mundial, no Parque da Redenção.
Segundo os organizadores, as atividades do FSM têm sido espaços privilegiados para o debate e para a articulação de bandeiras comuns e de lutas conjuntas. “Este janeiro de 2023 marca uma mudança de rumos no maior país da América Latina. Essa mudança é popular, é democrática, é negra, é indígena, é feminista, é em defesa do meio ambiente e só será efetiva se houver organização e mobilização popular desde o princípio”, apontam.
Pouco antes da marcha, a vereadora e deputada federal eleita Daiana Santos (PCdoB-RS) declarou ao portal Vermelho: “Depois desses quatro anos desastrosos de governo Bolsonaro, em que direitos básicos da nossa população foram constantemente atacados e destruídos, penso que o Fórum Social Mundial é um momento único de reconstrução que marca o novo governo Lula”.
Ela ressaltou que especialmente na pandemia, “a gente viu o discurso do ex-presidente fazendo uma contraposição entre a vida e a economia, o que resultou em quase 700 mil mortos pela Covid-19 até o momento. A gente chega com o FSM colocando a pauta social no centro do debate, abrindo o diálogo e construindo esse futuro a partir do olhar das populações marginalizadas, das mulheres, das negras e negros, dos povos indígenas, dos quilombolas, das LGBTI+, da periferia, que são a cara do povo trabalhador”.
Daiana salientou ainda que “estamos construindo, ao longo desses dias, um recomeço do Brasil, com um novo governo e com novas prioridades”.
O ex-governador gaúcho Olívio Dutra participou a pé da marcha, ajudando a carregar bandeira em defesa da água pública contra a privatização de empresas de saneamento, assunto que também tem gerado mobilização dos movimentos sociais pelo país, inclusive no RS e em Porto Alegre. “A água é um bem da natureza e não pode ser objeto do lucro privado. O poder público municipal, estadual, federal, precisa cuidar dessa riqueza em proveito da humanidade, dos povos”, declarou Olívio.
Vitalina Gonçalves, representante da CUT-RS no Fórum e secretária de Mulheres do PT-RS, lembrou que o evento do ano passado serviu para preparar os movimentos para o desafio final de enfrentar e derrotar Bolsonaro nas eleições. “E agora, neste ano, esta é a primeira grande atividade de massas da classe trabalhadora. Estamos nos organizando para aprofundar a nossa agenda e as nossas estratégias para disputar o governo Lula”.
Na avaliação de Vitalina, “é muito importante para a classe trabalhadora que nós, mulheres e homens, negros, não negros e indígenas estejamos discutindo a situação em que o país se encontra e qual o nosso papel enquanto classe trabalhadora para que, de fato, possamos deixar para trás os retrocessos, a fome, a miséria, o desemprego, a violência contra as mulheres e possamos avançar”.
Outra jovem parlamentar negra eleita no último pleito, a atual vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB) — que em breve passará a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do RS — salientou que o Fórum Social Mundial “tem um histórico importante na organização das lutas por justiça e igualdade não só no Brasil, mas no mundo todo. Quando o FSM surgiu, lá no início dos anos 2000, a gente vivia uma importante ascensão democrática no Brasil e na América Latina, a gente estava dando passos importantes na realização dos sonhos que eram falados dentro do Fórum. Vimos isso se perder nos últimos anos, mas agora estamos reconquistando tudo isso”.
Para Bruna, esta edição do FSM cumpre um papel fundamental nessa retomada da luta por dignidade. “Junto com a eleição de Lula, nós conquistamos (e não apenas no Brasil) a oportunidade de rediscutir um projeto de transformação e reconstrução do nosso país. É só olhar para a nossa volta que a gente vê e entende essa urgência: o extermínio da juventude negra e dos povos indígenas, o aumento dos casos de feminicídio são apenas alguns desses indicadores que provam o quanto precisamos avançar, e o quanto essa oportunidade está nas nossas mãos”, afirmou.
À Agência Brasil, a líder indígena Kantê Kaingang declarou: “O fórum, para nós indígenas, é muito bom, é o encontro dos filhos da Terra, para nós nos unirmos para terminar com as diferenças. O nosso presidente, com muito trabalho, o trouxemos de volta. Enquanto aquele que foi embora queria matar o ser humano, queria matar a Mãe Terra, tentou matar os meus parentes. Ele [Bolsonaro] estava apoiando essas mineradoras. Mercúrio, veneno, tudo isso. Mas graças a Deus colocamos de volta nosso irmão Lula”.
A marcha foi encerrada em frente à Assembleia Legislativa, na Praça da Matriz. Segundo os organizadores, devido ao pouco tempo para convocação e mobilização para este ano, o evento é regional, porém, de caráter mundial, com as atividades sendo realizadas na ALRS, em outros espaços da cidade e também virtualmente.
Fonte: Portal Vermelho / Priscila Lobregatte