Sindicomerciários Caxias comemora 90 anos de lutas e conquistas
Na próxima quarta-feira, 11 de maio, o Sindicomerciários Caxias estará realizando diversas atividades durante o dia para comemorar os 90 anos do sindicato. Fundado no dia 11 de maio de 1932, inicialmente com apenas 21 empregados e a denominação de Associação dos Empregados no Comércio, hoje, conta com aproximadamente 3 mil associados e representa quase 20 mil trabalhadores e trabalhadoras do comércio de Caxias do Sul, Flores da Cunha, São Marcos e Nova Pádua, realizando mais de 15 mil atendimentos médicos, odontológicos, jurídicos e trabalhistas por ano. Para a parte da manhã, às 9h30, está marcado um ato político, quando será lançada a revista dos 90 anos e galeria de ex-presidentes, e estará recebendo em sua nova sede, na Rua Pinheiro Machado 1239, uma exposição fotográfica para resgatar e contar um pouco desta história de lutas e conquistas.
NASCIMENTO DO SINDICOMERCIÁRIOS CAXIAS
O surgimento do Sindicomerciários, um dos sindicatos mais antigos em atividade do país, que representa 10 categorias de comerciários (supermercados, lojas, concessionárias, farmácias, peças, siderúrgicos, funerários, atacados, atacados de madeiras e atacados de álcool e bebidas), está fortemente ligado à luta dos trabalhadores do início do século passado no Brasil e no mundo, quando a situação de trabalho era extremamente precária, longas jornadas de trabalho, trabalho infantil e falta de leis que garantissem a dignidade e, muitas vezes até a vida dos trabalhadores. Antes até mesmo da abolição da escravatura no Brasil, os comerciários já se organizavam pela luta de direitos e melhores condições de trabalho. Em 1837 foi lançado o primeiro informativo operário brasileiro, “O Defensor dos Caixeiros”, na Bahia. Em março de 1931, com um decreto do então presidente Getúlio Vargas, conhecido como Lei de Sindicalização, os sindicatos foram regulamentados, impedindo que os trabalhadores se organizassem de maneira autônoma, e, em 1943, teríamos a Consolidação das Leis Trabalhistas, a CLT. Com a regulamentação, também viria uma forte repressão ao movimento de trabalhadores.
A economia caxiense crescia, assim como a industrialização e os outros setores, em especial o comércio, acelerando durante a Primeira Guerra Mundial, e intensificando-se na década de 1930, e durante a Segunda Guerra. Em 1946 a região já tinha praticamente 14,62% das empresas gaúchas, entre indústrias e casas comerciais. Assim, em meio ao processo de regulamentação por parte do governo e, um crescimento de toda a economia da região, o Sindicomerciários iniciou a luta pela organização dos trabalhadores no comércio. Do primeiro presidente, Salvador Sartori, em 1932, ao atual, Nilvo Riboldi Filho, podemos constatar a presença de duas grandes fases na entidade: o período em que o governo federal age, tenta usar, controlar os sindicatos durante a Ditadura Militar e, com a redemocratização, o período marcado pela volta de diretorias inteiramente formadas por trabalhadores, elegendo suas novas diretorias, com renovação e transparência.
Da primeira fase do Sindicomerciários, podemos destacar a construção da antiga sede administrativa, iniciada em 1965, na rua Garibaldi, 370, onde muitos dos serviços oferecidos e ampliados com o passar do tempo iniciaram, como a pediatria. Hoje, na nova sede, inaugurada durante a pandemia, em 2020, mais ampla e moderna, na rua Pinheiro Machado, 1239, são realizados mais de 15 mil atendimentos médicos, odontológicos, jurídicos e trabalhistas por ano, fora a sede campestre e convênios oferecidos em todas as cidades da área de abrangência do sindicato.
A REDEMOCRATIZAÇÃO E UM NOVO SINDICATO
Na mesma época em que os brasileiros lutavam pela volta da democracia, eleições diretas, e muitos choravam pelo desaparecimento e morte de seus familiares e amigos, os comerciários e comerciárias caxienses erguiam uma nova bandeira, a retomada do sindicato pelos trabalhadores. Coube a uma mulher, Odete Maria Rodrigues da Silva, a tarefa de ser presidente do Sindicomerciários Caxias após longos anos de ditadura militar, de 1983 a 1986. O Brasil se encaminhava para novos rumos, com influência da Constituição de 1988, mas com duras feridas abertas, principalmente na economia, quando vivenciamos uma inflação galopante, falta de alimentos, tabelamento e, o país foi tomado por greves, como a Greve Geral de 1985, onde o sindicato mostrou a força da categoria comerciária, com passeatas, protestos na Câmara de Vereadores, área central, lojas e ruas da cidade. Desta diretoria, forjada durante a redemocratização, surgem grandes lideranças que estariam à frente do sindicato nas próximas décadas e, se tornariam referências estaduais e nacionais, como os presidentes Deoclécio da Silva (ex-presidente), Paulo Pacheco (ex-presidente) e, Guiomar Vidor, o comerciário que se tornaria presidente da CTB-RS e Fecosul, demonstrando o protagonismo do movimento sindical caxiense. Vidor foi substituído por um curto espaço de tempo por Solange Carvalho, durante três meses, em 1992, sua vice-presidente, quando concorreu à Câmara de Vereadores. Outras grandes lutas da época foram pelo Sábado Inglês e, contra a livre abertura do comércio aos domingos.
AMPLIAÇÃO DE SERVIÇOS E CONSTRUÇÃO DA SEDE CAMPESTRE E NOVA SEDE SOCIAL
Em 1995 a 2001 assume a presidência da entidade Paulo Roberto Pacheco, e a Sede Campestre é inaugurada. É uma época de grandes enfrentamentos contra o neoliberalismo no Brasil, globalização, e, um fato marcante para os comerciários e comerciárias: a regulamentação do trabalho aos domingos e feriados. A campanha contra a abertura aos domingos tomou as ruas da cidade, sendo travado um grande enfrentamento. Em 2001, assume a presidência do Sindicomerciários novamente uma mulher, Ivanir Perrone. Uma das conquistas de Ivanir foi a obra de revitalização da antiga sede, em março de 2006, com um novo auditório. Era dado início também ao novo sonho, quando foi adquirido o terreno para a construção da nova sede.
Em 2010, uma nova chapa é eleita, sendo presidida por Silvio Frasson, que esteve à frente do sindicato até 2018, com um grande desafio, a construção do prédio da nova sede e o enfrentamento de uma grande turbulência política no país, quando passamos pelo Golpe, que levou ao poder a extrema direita, que iniciou uma agenda de retirada de direitos com as reformas Trabalhistas e da Previdência, assim como a perseguição as entidades sindicais. Ao mesmo tempo, é iniciado um processo de renovação da diretoria, com a eleição de Nilvo Riboldi Filho para presidente, sendo auxiliado pelos ex-presidentes Ivanir, Silvio, Paulo e Guiomar. Momento este quando foram tomadas grandes decisões, como a mudança para a nova sede, em meio as crise políticas, econômica e sanitária em que o Brasil se encontra até o presente momento.
UM NOVO DESAFIO AOS TRABALHADORES
A renovação na presidência e diretoria do sindicato veio acompanhada de grandes desafios. Desafios não só para conseguir sobreviver a perseguição que o governo trava desde o golpe, quando se iniciou uma agenda de retrocessos e perseguição aos sindicatos e entidades que defendem os trabalhadores. Se no passado as mobilizações dos trabalhadores conquistaram direitos como a jornada de 8 horas diárias, e através da negociação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), o auxílio creche, adicional de horas extras, quebra de caixa e a bonificação pelo trabalho em domingos e feriados, hoje, os trabalhadores, e os sindicatos, lutam para que o desgoverno não retire mais direitos. Na visão de Guiomar Vidor, ex-presidente do Sindicomerciários Caxias e presidente da CTB-RS e Fecosul, “vivemos um momento de retrocesso incalculável nos direitos trabalhistas, com números recordes de desemprego. As reformas Trabalhistas e da Previdência só vieram retirar e precarizar os empregos. Precisamos urgentemente mudar o rumo da política nacional!”.
Para Nilvo Riboldi Filho, atual presidente do sindicato, “mesmo na pandemia, graças ao trabalho de todas as diretorias que me antecederam, foi possível a compra e a construção da nova sede. Conseguimos não só manter, como ampliar os atendimentos médicos durante a pandemia, ajudando até mesmo a não sobrecarregar o sistema público de saúde. Hoje temos uma ampla e moderna sede, que possibilita atender a todos de maneira muito melhor, além de estarmos investindo na modernização do atendimento, como foi o caso do nosso aplicativo e da nova maneira de nos comunicar com os associados e categoria neste período de crise econômica e sanitária. Infelizmente choramos a morte de quase 700 mil brasileiros! Mas, estamos fazendo a nossa parte para que os comerciários e comerciárias, assim como suas famílias, estejam bem. Podem ter certeza que estaremos sempre ao seu lado!”.
A ex-presidente, e atual vice, Ivanir Perrone, destaca o trabalho e luta das mulheres não só no sindicato, mas em todo o movimento sindical. “Nossa categoria, além de ser formada principalmente por mulheres, na sua maioria, sempre deu espaço para as mulheres, que estão na formação e presidência da entidade desde a redemocratização. As últimas diretorias plantaram grandes sementes, fizeram grandes conquistas, como a Sede Campestre, a reforma da antiga sede, compra do terreno para construção e, agora, a entrega do novo prédio. Não se faz um sindicato forte sozinho. O que temos hoje é o trabalhos de todas as diretorias e, de cada comerciário e comerciária!”.
Silvio Frasson, ex-presidente e atual secretário da entidade, acrescenta que “dificuldades sempre teremos, mas, com o apoio da categoria conseguimos grandes realizações. Além de sermos um dos mais antigos sindicatos trabalhistas em atividade, temos hoje uma das mais bem estruturadas sedes, e estamos ampliando atendimentos médicos, até mesmo com mais médicos! Tudo graças ao trabalho de anos, décadas, na verdade! Conquistamos muito, a categoria comerciária conquistou, sempre com transparência, luta e união”. Paulo Pacheco, ex-presidente, também lembra da luta e trabalho para compra e construção de outra grande conquista da categoria, a Sede Campestre, “um local que os trabalhadores e suas famílias aguardam ansiosamente pra fazer suas confraternizações, com toda estrutura, piscinas, churrasqueiras, quadras e campo de futebol, tudo perto do centro de Caxias, a apenas 15 minutos”, e complementa, “que além do que é físico, o que conquistamos em todas essas décadas de lutas vai muito mais além. Muitos aqui sabem o que é estar na frente das manifestações lutando pelos direitos que temos hoje, enfrentando a polícia, o governo. O que é estar na mesa de negociação todos os anos, para que o trabalhador possa trabalhar com dignidade e segurança! A nossa luta nunca acabará. O que podemos deixar é a estrutura para que as novas gerações de trabalhadores continuem a lutar!”
Nilvo Riboldo finaliza afirmando que “não vivemos como em 1932, o comércio de hoje não é o mesmo de quando o sindicato iniciou, precisamos evoluir, mas com dignidade e justiça para os trabalhadores. Hoje nosso principal objetivo é tentar reverter os retrocessos que o golpe e a reforma Trabalhista causaram, retirando mais de 100 direitos! Um novo mundo do trabalho está aí, mas, precisamos refletir sobre as relações entre trabalhadores e patrões, e os trabalhadores sabem que podem contar com o sindicato para defendê-los. Não importa a época, o momento na história, esta é a missão e finalidade do sindicato, na nossa existência, estar sempre ao teu lado, trabalhador, comerciário e comerciária.” Para Nilvo, “podem até ser 90 anos, mas, nossa luta ainda está só iniciando”.